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120 anos de música-de-banda

Article 12.11.2018 14:08

Crônica alusiva à passagem dos 120 anos da banda-de-música da cidade de Campina Grande-PB, a FILARMÔNICA MUNICIPAL EPITÁCIO PESSOA (para o dia 15/11/2018)

Sabe-se que Campina Grande-PB, cognominada elegantemente como Rainha da Borborema, é uma cidade que tem pendor para o trabalho desde os seus primórdios. Isso não é diferente quando se refere à arte musical. Nesta cidade foi fundada por Antonio Balbino, em 15 de Novembro de 1898, a Filarmônica Campinense. Posteriormente, denominada Filarmônica XV de Novembro, teve como primeiro regente, segundo contradições bibliográficas, João Borges da Rocha, Honório Correia ou o Sr. Vigarino. O nome desta banda-de-música é uma menção à data da recente Proclamação da República (15/11/1889) que estava ainda por completar o primeiro decênio.

Tal banda pertenceu, a princípio, ao Partido Conservador, o qual era liderado por Alexandrino Cavalcanti – sogro do comerciante dinamarquês Christian Lauritzen, o qual viera a se tornar Prefeito de Campina Grande por 19 anos, no período de 14/11/1904 a 18/11/1923. Mesmo sendo a entidade cultural mais antiga da cidade, quando se refere à representação institucional das sete artes tradicionais, a história concisa desta banda, baseada em documentos oficiais, ainda está por ser escrita.

Possivelmente na década de 1920, a “XV de Novembro” foi apelidada de “Sá Zefinha” porque existiu, de acordo com depoimentos orais de componentes antigos, a presença constante de uma senhora popular chamada Zefinha, fã incondicional desta entidade. Ela acompanhava os músicos de forma vibrante em todas as apresentações. Por isso essa figura se transformou em um símbolo de mascote nos desfiles, alvoradas, salvas, retretas, fubecas, procissões e demais tocatas. Assim ficou esta alcunha.

A história da referida corporação artística se confunde, muitas vezes, com a própria história de Campina Grande. À época, funcionava a rival Filarmônica Lira da Borborema, regida pelo mestre-de-banda Severino Atanásio – pai do compositor de frevos Severino Lourenço Barbosa (Capiba). Essa banda-de-música foi extinta na década de 1920, mas deixou descendentes de grande valor musical em Campina Grande, a exemplo do irmão do famoso Capiba, o Senhor Hermann Capiba - autor do memorável frevo campinense “Briga de Foice”. Naqueles tempos, as partituras usadas por ambas as bandas eram trazidas de Recife-PE, em lombo de jegues, segundo remanescentes. Outra rival da Sá Zefinha era a charanga Afonso Campos, que também ficou inativa na década de 1930.

A utilidade pública da banda XV de Novembro foi comprovada, ao longo do tempo, por efeito de participações emblemáticas nos eventos sociais, políticos, religiosos, radiofônicos, televisivos e educativos, entre outros. Há, por exemplo, registros fotográficos da participação desta banda-de-música no Programa “Salve a Retreta”, em 1955, na rádio Borborema.

A banda-de-música XV de Novembro passou a ser referenciada como Filarmônica Epitácio Pessoa depois que foi municipalizada, provavelmente, em meados da década de 1950. O título foi uma merecida homenagem ao único paraibano que foi Presidente da República Federativa do Brasil (1919-1923). Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa nasceu no Município de Umbuzeiro-PB no dia 23/05/1865 e faleceu em Petrópolis-RJ no dia 13/02/1942.

Em 1977 o nome de Campina Grande foi elevado em nível nacional. A Filarmônica Municipal Epitácio Pessoa, regida nesta ocasião pelo Maestro Eraldo Gomes, foi vice-campeã do 1º Concurso Nacional de bandas-de-música, realizado no Rio de Janeiro-RJ. A iniciativa foi da FUNARTE. O evento foi promovido em parceria com a Rede Globo por meio do projeto CONCERTOS PARA A JUVENTUDE. A apresentação das bandas participantes ocorreu no Teatro Globo. Ao final, as quatro melhores gravaram um Long Play pela famosa Editora Som Livre.

Depois de 120 anos de fundação, revigora-se e renova-se por meio da tradição instrumental, em meio a tempos em que os estilos musicais estão cada vez mais dispersos e descartáveis.  O dobrado, a marcha de procissão (ou marcha solene), o frevo, o bolero, a marcha-rancho, a marchinha carnavalesca, a valsa, a marcha-fúnebre, o lundu, o maracatu, o choro, o hino, o maxixe, o samba e outros gêneros bandísticos são a referência maior nas apresentações públicas oficiais. Esse repertório, composto majoritariamente de ritmos brasileiros, compõe o que se denomina aqui, com terminologia própria, de música-de-banda.

O “dobrado-de-rua” ou simplesmente “dobrado” continua sendo a tônica desde o princípio, para ser aparentemente redundante e redondamente figurativo. Eles são representados pelos notáveis: 222 (de Antonino), Dobrado 59 - Mobral (de Felinto Lúcio Dantas), Dobrado Marcha de Guerra do BRASIL (F. Harold), Dobrado 4 Tenentes (de José Machado dos Santos) e Barão do Rio Branco (Francisco Braga). Existem também os “dobrados-de-concerto” ou “dobrados sinfônicos”, que igualmente são executados pela banda-de-música Epitácio Pessoa: Janjão (de Joaquim Antonio), Aviação Embarcada (do Capitão João Nascimento, patrono dos Músicos da Aeronáutica brasileira), Tusca, Allah e Magnata.

Nos tempos atuais são incrementadas, por necessidade de acomodação às tendências contemporâneas, arranjos de estilos diferenciados (nacionais e internacionais). É comum o uso de uma base harmônica para inserção de voz interpretativa cujo repertório abrange, por exemplo, a música popular brasileira (MPB). Assim é feito um papel eventual de orquestra na qual o próprio cantor é o instrumento solista.

Outra linha de trabalho em orquestração e arranjo para a banda-de-música Epitácio Pessoa se refere às gravações cinematográficas que ficaram conhecidas no mundo inteiro, tais como: ( i ) A trilha do seriado Pantera Cor-de-Rosa (1963), de Henry Mancini; ( ii ) trilha do filme The Good, the Bad and the Ugly (O Bom, o Mau e o Feio) - de 1966 - do compositor, arranjador e maestro italiano Ennio Morricone; ( iii ) A música "The Godfather ", composta por Nino Rota, que se notabilizou como tema principal do filme O Poderoso Chefão - 1972; ( iv ) a trilha sonora do filme Indiana Jones (1981), composta por John Williams. A Sá Zefinha executa todas essas músicas, meticulosamente orquestradas pelo atual contra-mestre Adeilson da Silva (Nilsinho).

Destacaram-se ao longo dos anos os nomes de alguns músicos, entre os quais: Serginho do Sax, requintista nascido em Sertânia-PE; Zé do Pife, com passagem efêmera na banda; e Délio Cabral de Melo (Tropinha), que segundo testemunhas, colocava a partitura de ponta-cabeça e tocava normalmente e por improviso. Dentre os maestros e diretores podemos citar: Djalma Marques de Melo, Francisco Paulo da Silva, João Batista Barbosa, José Raimundo, Alfredo Macena de Andrade, José Soares de Lira, Antonio Soares da Silva, José Josué de Lima, Inácio Tito, Jaconias Santos, Severino Herculano, Severino Cruz, João Aprígio, Nilo Gomes, Professor Capiba, Jaconias Santos, João Artur, Aprígio Osório, Mestre Adauto, José Baltazar, Petrônio Lima Filho, José Fernandes, Celso Carvalho, Aprígio Osório, Nilo Gomes e Welington Silva, entre tantos outros.

Atualmente, a Filarmônica Municipal Epitácio Pessoa está vinculada administrativamente à Secretaria de Cultura do Município de Campina Grande, sendo dirigida pelo trombonista Severino Aleixo (Luizinho) e regida pelo Maestro Wellington Silva. Como reconhecimento da importância dessa entidade para o município e microrregião da Borborema, o atual prefeito Romero Rodrigues tem dispensado uma atenção especial para com a Filarmônica Epitácio Pessoa, beneficiando-a com compra de equipamentos permanentes, conforme é registrado no AVISO DE LICITAÇÃO concernente ao PREGÃO PRESENCIAL Nº 2.12.006/2018 - PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 2.12.006/2018. Tais dados estão publicados no Semanário Oficial nº 2.586, página 07 – Campina Grande-PB, de 27 a 31 de agosto de 2018.

Assim, a Filarmônica Municipal Epitácio Pessoa continua desenvolvendo as suas atividades musicais, cumprindo o seu papel, de forma exemplar, no contexto histórico e cultural da Cidade de Campina Grande - PB.

 

Autor: Roniere Leite Soares – Novembro/2018

Professor da Área de Expressão Gráfica (Desenho) - UFCG/CCT/UAEP

Requintista da Filarmônica Municipal Epitácio Pessoa, de 2005 a 2012 (Campina Grande-PB)

 

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